O Espírito e o jurado
Sr. Simon M.
Numa de nossas sessões, lemos o artigo "O Espírito e o jurado", publicado na Revista Espírita de novembro de 18591, e na sequência evocamos o Espírito do Sr. Simon M., para que nos desse algumas instruções.
Reproduzimos aqui, na íntegra, o artigo que motivou o nosso estudo:
"Um dos nossos correspondentes, homem de grande saber e portador de títulos científicos oficiais, o que não o impede de cometer a fraqueza de acreditar que temos uma alma e que essa alma sobrevive ao corpo, que depois da morte fica errante no espaço e ainda pode comunicar-se com os vivos, tanto mais quanto ele próprio é um bom médium e mantém conversas com os seres de além-túmulo, dirige-nos a seguinte carta:
"Senhor,
"Talvez julgueis acertado agasalhar na vossa interessante revista o fato seguinte:
"Há algum tempo eu era jurado. O tribunal devia julgar um moço, apenas saído da adolescência, acusado de ter assassinado uma senhora idosa em circunstâncias horríveis. O acusado confessava e contava os detalhes do crime com uma impassibilidade e um cinismo que faziam fremir a assembleia.
"Entretanto é fácil prever, em virtude da sua idade, da sua absoluta falta de educação e dados os estímulos recebidos em família, que fossem apresentadas em seu favor circunstâncias atenuantes, tanto mais que ele fora levado pela cólera, agindo contra uma provocação por injúrias.
"Eu quis consultar a vítima a respeito do grau de sua culpabilidade. Chamei-a, durante a sessão, por uma evocação mental. Ela me fez saber que estava presente e eu pus minha mão às suas ordens. Eis a conversação que tivemos - eu, mentalmente, ela pela escrita:
"P. O que a senhora pensa de seu assassino? - Não serei eu quem o acusará.
"P. Por quê? - Porque ele foi levado ao crime por um homem que me fez a corte há cinquenta anos e que, nada tendo conseguido de mim, jurou vingar-se. Conservou, após a sua morte, o desejo de vingança e aproveitou as disposições do acusado para lhe inspirar o desejo de matar-me.
"P. Como sabe disso? - Porque ele mesmo me disse, quando cheguei a este mundo que hoje habito.
"P. Compreendo sua reserva diante dos estímulos que o seu assassino não repeliu como deveria e poderia. Mas a senhora não pensa que a inspiração criminosa, à qual ele voluntariamente obedeceu, não teria sobre ele o mesmo poder, se não houvesse nutrido ou entretido, durante muito tempo, sentimentos de inveja, de ódio e de vingança contra a senhora e a sua família? - Com certeza. Sem isso ele teria sido mais capaz de resistir. Eis por que digo que aquele que quis vingar-se aproveitou as disposições desse moço. O senhor compreende que ele não se teria dirigido a alguém que se dispusesse a resistir.
"P. Ele goza com a sua vingança? - Não, pois vê que isso lhe custará caro. Além disso, em lugar de me fazer mal, ele me prestou um serviço, fazendo-me entrar mais cedo no mundo dos Espíritos, onde sou mais feliz. Foi, pois, uma ação má sem proveito para ele.
"Circunstâncias atenuantes foram admitidas pelo júri, baseadas nos motivos acima indicados, e a pena de morte foi descartada.
"A respeito do que acabo de contar, deve fazer-se uma observação moral de grande importância. É necessário concluir, com efeito, que o homem deve vigiar os seus menores pensamentos malévolos e até mesmo os seus maus sentimentos, por mais fugidios que pareçam, pois eles podem atrair para si Espíritos maus e corrompidos, e expô-lo, fraco e desarmado, às suas inspirações culposas. É uma porta que ele abre ao mal, sem compreender o perigo. Foi, pois, com um profundo conhecimento do homem e do mundo espiritual que Jesus Cristo disse: 'Todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçá-la, já em seu coração adulterou com ela.' (Mat. 5:28).
"Tenho a honra, etc.
SIMON M..."
Após o estudo do artigo acima, preparamos algumas perguntas para propor ao Espírito do Sr. Simon e o evocamos.
- Senhor Simon, nós vos agradecemos se tiverdes a bondade de vir responder-nos algumas perguntas para nossa instrução.
- Caros amigos, para mim é uma felicidade ser lembrado, pois o pouco que pude fazer pelo Espiritismo vale apenas alguns centavos em face da incalculável riqueza espiritual que o Sr. Allan Kardec nos deixou de herança, ainda que ele afirme, humilde, que tal herança é fruto do trabalho do Espírito de Verdade, o guia de todos nós. É uma singela imagem que uso para que compreendais que apenas cumpro um dever entretendo-me convosco, a fim de responder vossas perguntas.
2. Sois feliz? Estais errante ou encarnado?
- Sim, sou feliz, habitando atualmente o mundo dos Espíritos, sem, contudo, ser um Espírito superior. A felicidade de que gozo é a do Espírito que olha para trás e vê as últimas reformas a serem feitas na obra de sua eternidade, mas especialmente feliz pelo conjunto de suas escolhas. Se ontem fui membro do júri no julgamento daquele jovem tão pobre de alma, hoje sou a testemunha do quanto a mediunidade bem praticada pode prodigalizar milagres.
3. As informações dadas pelo Espírito da Sra. que fora assassinada tiveram algum peso no julgamento do jovem que lhe tirou a vida?
- Sim, a conversa com ela produziu, especialmente sobre mim, um bom efeito, pois tocou meu coração e fez-me refletir com caridade, tendo assim um olhar mais justo sobre o seu assassino. Sob a influência do Espírito daquela senhora, meus colegas de júri raciocinaram melhor, e, tornando-se também eles um pouco médiuns, puderam interpretar o pensamento e o sentimento daquela que, depois da morte, não tinha senão palavras amenas para com o infeliz que lhe ceifara a vida.
4. O senhor evocou o Espírito durante a sessão do júri, ou em outro momento?
- Evoquei-o no transcorrer da sessão do júri, pois meu papel era julgar, e não queria ser parcial baseando-me somente em minhas próprias ideias, como quem busca apenas em si as respostas; ao contrário, como espírita e médium, eu as busquei no além-túmulo, onde se poderia encontrar a verdade. Ah, meus amigos, que compensação extraordinária à nossa pequenez pode dar-nos a mediunidade! Sim, eu a praticava onde quer que fosse útil valer-me dela; e, com a ajuda dessa ferramenta divina, passei a amar mais a vida espírita do que a vida terrena, tornando-me ávido dos tesouros inestimáveis do pensamento, aspirando a vida futura como quem aguarda o dia em que, sem dúvida alguma, receberá a cidadania da sua pátria tão amada.
5. O meio ali não era desfavorável ao recolhimento para ouvir o Espírito?
- Digo-vos, caros espíritas, que a mediunidade, quando praticada com seriedade e segurança, deve ajudar-vos a ver tudo ao vosso redor sob o ponto de vista do Espírito imortal. Era esse o pensamento que perpassava minha alma em todas as situações da vida: o de jamais deixar de buscar instruções dos Espíritos, especialmente nas ocasiões em que contar apenas comigo mesmo seria sujeitar-me mais facilmente ao erro.
A vontade sincera de se instruir e de servir pode suplantar o meio desfavorável, e mesmo que não seja possível obter dissertações bem elaboradas ou comunicações bem desenvolvidas, a mediunidade é sempre um sentido a mais para se investigar a verdade. Por que haveríamos de negligenciá-la, se ela pode evitar que demos passos equivocados ao nos servirmos apenas de nossos sentidos mais grosseiros?
Às vezes ainda pensais nos Espíritos como se eles estivessem disponíveis apenas nos momentos consagrados às reuniões, e na mediunidade como uma faculdade especial, no sentido de que haveria momentos mais sagrados do que outros para empregá-la. Não, meus amigos, pois se assim fosse, a mediunidade não seria uma lei natural, uma faculdade que vos foi dada para conhecer os tesouros que, de outra maneira, ficariam ocultos para vós.
6. Poderíeis dar um conselho aos médiuns e demais membros deste grupo?
- Mesmo sabendo que o mestre Allan Kardec tem muito mais do que eu para dar-vos, ouso dizer-vos algumas palavras, a fim de vos incentivar a perseverar no caminho que ele abriu para vós. Amai o fato de serdes médiuns; valorizai a oportunidade de poderdes vos comunicar com os seres de além-túmulo; lançai mão dela como de uma ferramenta útil com a qual podereis adquirir um tesouro moral inestimável, que nada nem ninguém vos pode tirar. Sede sérios no uso dessa faculdade que Deus vos concedeu para o vosso próprio progresso e para servir aos Espíritos encarregados da regeneração da Humanidade terrena; sede alegres por poderdes dispor dos meios para tornar mais fácil o progresso de todos, e jamais negligencieis essa nobre oportunidade de serviço.
É uma honra poder ser-vos útil, meus caros irmãos espíritas. Deixo-vos meu terno reconhecimento e um caloroso aperto de mão."
SIMON
(Psicografada dia 31 de outubro de 2023.)
"Que a mediunidade, como ferramenta divina seja entendida;
Se bem aplicada, toda dor é lenida;
A instrução se consolida;
A distância é diminuída;
E a fé restabelecida."
Um Espírito
(Psicografada dia 2 de novembro de 2023, na Sessão familiar comemorativa dos mortos.)
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1 Revista Espírita, novembro de 1859 - O Espírito e o Jurado

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