Cura de obsessão motivada por suposta violação de um código de honra
Espírito de Victor e Sr. N.
O Sr. N. foi um bom filho, é bom pai, bom avô, e está hoje com mais de setenta anos de idade. Aposentado há alguns anos, quase todos os dias vai à academia exercitar-se e sempre cuidou bem de sua saúde. Embora busque ser ativo e prestativo, há vários anos ele tem passado por momentos alternados entre calma e irritação, alegria e tristeza e um certo desgosto pela vida lhe surge às vezes.
Em setembro de 2023 ele passou algumas semanas cuidando de um familiar idoso, adoentado, que mora numa cidade distante da sua. Quando o familiar melhorou, ele voltou para sua casa e começou a apresentar sintomas de depressão. Sua esposa, preocupada com a situação, contou-nos que fazia mais de uma semana que ele permanecia em seu quarto, deitado, com as janelas fechadas; embora com pouco apetite, fazia um esforço para sair a fim de se alimentar, mas logo voltava. Mais de uma vez falou em suicídio.
Nem o Sr. N. nem sua esposa são espíritas. Ele, embora de família católica, é incrédulo. Porém, têm familiares que são espíritas, e estando em casa de alguns deles, sua esposa pediu auxílio, pois sabe que eles se comunicam com os Anjos guardiães, e poderiam pedir orientações sobre a situação do marido. Ela mesma participou de uma sessão em que os bons Guias foram evocados para pedir-lhes orientações e conselhos sobre o Sr. N. As seguintes perguntas foram escritas antecipadamente:
1. A que se deve a situação em que se encontra o Sr. N.?
2. Além das preces que temos feito por ele, há algo mais que possamos fazer para ajudá-lo a sair dessa situação?
3. Pedimos vossos conselhos e orientações para que possamos auxiliar essa família.
As seguintes comunicações foram dadas simultaneamente por dois médiuns:
I
"Hoje o que vemos é um quadro se agravando pela força das ideias que são inspiradas ao Sr. N. As preces e o incentivo às boas ocupações o ajudarão a opor resistência às más sugestões de um Espírito que há tempos age sobre ele.
Quantas situações como essa poderiam ser evitadas se a incredulidade não fosse reforçada pelas teorias mais estranhas que ferem o bom senso, mas que são aceitas sem exame.
Em vossas preces imaginai o Sr. N. bem, e rogai a Deus para que afaste esse Espírito e, em uma sessão e horário combinados, evocai-o para saber mais a seu respeito."
Albert
(Psicografada dia 9 de outubro de 2023.)
II
"Façam o que puderem para ajudar esse rapaz por quem tenho muita estima, porque ele não está conseguindo se libertar sozinho dessa má influência.
Quando ele fica longe de casa por muitos dias sua situação piora, mas ele faz esse esforço porque quer cumprir um dever junto ao seu familiar doente, mas não deixa de ficar incomodado. Esse estado dá mais espaço em seu coração para uma maior investida de um Espírito que o persegue há muito tempo.
Nós também temos pedido a Deus que dê forças a ele para que saia dessa situação."
Antônio de L. (Sogro do Sr. N.)
(Psicografada dia 9 de outubro de 2023.)
Nota: Vemos que os parentes mortos não deixam de se importar com seus afetos vivos. O Sr. Antônio, quando vivo, tinha sincera afeição por seu genro, e essa amizade não poderia morrer com o corpo físico.
Primeira conversa
(Sessão familiar do dia 10 de outubro de 2023.)
Seguindo os conselhos e as orientações dos Guias e do pai da esposa do Sr. N., o Espírito obsessor foi evocado e começou a falar um tanto zangado, dizendo que iria deixar louco aquele de quem buscava vingar-se. Dirigiu-nos alguns xingamentos e afirmou que nada o faria desistir da vingança, pois "não costumo perder nenhuma batalha, nenhuma!". Após ter dito isso, pediu-nos que não nos intrometêssemos nos seus assuntos.
Não vamos reproduzir aqui a primeira conversa porque ela tem a característica de quase todas as primeiras conversas tidas com Espíritos obsessores, antes que percebam que se quer auxiliá-los.
Segunda conversa
(Sessão familiar - dia 11 de outubro de 2023.)
Nessa segunda conversa o Espírito deixou mais clara a causa da sua revolta.
Assim que foi chamado, começou a falar nesses termos:
- Eu achei que a nossa conversa de ontem era suficiente, mas pelo jeito não foi.
1. Porque julga que deveríamos abandoná-lo, se ainda sofre? Não faremos isso, queremos vê-lo livre dessas correntes que lhe machucam.
- Não existe corrente nenhuma, é só um justo acerto de contas, porque temos um código de honra a ser respeitado, e eu não abro mão disso.
2. Quem criou esse código de honra? Foi Deus, nosso Pai, que é justo e bom?
- Não poderia ser Deus. Sabe por quê? Porque ele não deve estar interessado em todas essas barbaridades. Então fomos nós mesmos que criamos esse código: é assim que as coisas funcionam.
3. Segundo esse código, todo aquele que deve, paga amargamente, caso tenha cometido algum ato de barbárie, como você diz. E você sofreu um ato de barbárie no passado, não foi?
- Sim.
4. Por qual infração ao tal código de honra você estava sendo punido? Quem estava lhe aplicando a pena?
- Não funciona assim. Ele sabia muito bem o que fazia e fez o que fez porque sentia prazer em fazer. Então, é justo que se devolva a ele o que ele merece. Eu só posso dizer a vocês de novo que parem de se intrometer nisso.
5. Nós queremos entender o seu raciocínio sobre o código de honra a que se refere. Parece que todo aquele que sofre, sofre justamente, e você sofreu. No entanto, você só guardou a lembrança a partir de quando sofreu, sem considerar a causa do seu sofrimento de então, que deve ser justo, segundo o seu código. No passado, você não estaria sendo punido por uma violação do código de honra? Talvez não tenha sido ele quem desencadeou a desgraça, mas você.
- Estávamos em condições de igualdade. Ele fez porque quis fazer, condição de igualdade.
6. Hoje você faz o que faz porque quer fazer, não é? Ninguém lhe obriga a fazer o mal. Façamos o seguinte raciocínio: hoje você faz livremente o mesmo que acusa seu inimigo de ter feito no passado. Não estaria ele naquele tempo fazendo livremente algo para puni-lo também?
- Qual a diferença, se quem deu o primeiro corte foi ele?
7. Você se lembra de que traiu primeiro? Quem foi o primeiro a trair a confiança do outro?
- Sim eu lembro, eu sei...
8. Quem foi?
- Acontece que, quando se tem uma guerra, quando se tem um objetivo, a única coisa que deveria ser respeitada é a honra daquele que luta. Se houve traição ou não, a questão é o respeito, a honra.
9. A traição não é uma desonra? Trair um amigo não é um ato desprezível?
- Ele nunca foi um amigo. A traição era para proteger outros de uma desgraça maior.
10. Mas ele confiava em você.
- Ele não confiava e não confia em ninguém.
Observação: Talvez por influência desse inimigo invisível, o Sr. N. tem a mania de repetir, com certa constância, que não confia em ninguém.
11. Isso foi a partir da traição que ele sofreu, pois depositou em você toda confiança. Lembra-se?
- Ele foi cruel, em tudo o que colocou a mão, foi cruel.
12. Não terá sido porque foi ferido por aqueles em quem mais confiava, e então se revoltou? Ficou assombrado com o que sofreu, e ainda sofre com isso até hoje.
- Eu não sei das razões dele, só sei que...
13. Que ambos sofrem: você e ele.
- Agora eu até tenho sentido uma certa satisfação em ver que a justiça está sendo feita. Então não é o meu sofrimento que prevejo, mas o dele, que é inevitável.
14. Você não tem levado em conta o mais importante: Deus, a Inteligência Suprema do Universo, soberanamente justo e bom, cujas leis são de toda a eternidade, e sempre vigentes. Quando alguém infringe Sua lei e se dá conta, volta sobre os próprios passos, pede a Deus que o perdoe e refaz o caminho. Você gostaria de conhecer melhor esse código para confiar nesse Soberano justo e bom de agora em diante?
- Você fala em Deus e não o vejo em lugar nenhum. Não o via nas tragédias que presenciei, não o vejo agora.
Observação: essa mesma ideia é muitas vezes expressada pelo Sr. N., por entender que, se Deus existisse não poderia haver tanto sofrimento neste mundo. Como não pode negar que haja sofrimento, nega que Deus existe. Essa crença falsa é alimentada por boa parte dos habitantes deste mundo imperfeito, mesmo entre os Espíritos. Ela é fruto da ignorância das verdadeiras causas das desgraças humanas.1
15. Não viu porque não observou bem, pois se tivesse olhado para dentro de si mesmo e observado tudo que tem em si: a inteligência, a razão, a vontade, o desejo de felicidade, veria que os elementos de origem divina estão na sua intimidade. Tem "código genético" de Deus na sua alma. O mal é obra de homens imperfeitos como nós, não de Deus. Hoje você pode fazer diferente e deixar que os elementos de origem divina que vibram na sua alma se sobressaiam; então perceberá Deus em tudo, mesmo na desgraça, que não é obra dele.
- Eu não o vejo, não é possível que possa existir esse Ser e que haja toda essa desgraça.
16. Deus criou todos os Espíritos simples, ignorantes e imortais. O ser imortal, ainda imperfeito, engendra a desgraça, consequência do seu livre-arbítrio. Você ouviu a prece pelos Espíritos endurecidos, que fizemos por você no início?
- Sim, mas vocês perdem tempo comigo, com essas histórias. Não há nenhuma possibilidade de mudança nos meus planos, ainda mais agora que consegui avançar em meus propósitos. Eu tenho me dedicado para que isso aconteça e vai acontecer.
17. Bons Espíritos têm se dedicado para que você abra os olhos, e isso vai acontecer, porque você é filho de Deus e não tem como fugir dessa verdade. Tem no fundo de sua alma um desejo de que as coisas sejam melhores, senão não teria se revoltado contra as desgraças, não é mesmo?
- Falta pouco para as coisas voltarem ao normal. Apenas me deixem, não se metam nisso e tudo vai ficar como tem que ser.
18. Então você quer que tudo fique mal, que continue a barbárie? Se é a barbárie que você reprova, por que continuar nela?
- Só quero justiça, só isso. Quero que ele responda pelas coisas que fez.
19. Todos respondemos perante Deus pelo mal que fizermos voluntariamente. A justiça de Deus não tem exceção, não tem privilégios, é perfeita. Você realmente não percebe que ele se arrependeu do que fez, pediu a Deus uma nova oportunidade e agora está em um novo corpo? Hoje ele não faz mal a ninguém, pelo contrário, só faz o bem.
- Agora ele se esconde, é só o que ele faz. Se esconde e se esconde, mas a cada esconderijo que ele entra eu o encontro e mostro a ele tudo o que ele agora quer esconder, quer fazer de conta que nada aconteceu...
Observação: curioso o Espírito referir-se à encarnação como esconderijo. Não está aí a prova da misericórdia de Deus ao fazer-nos esquecer o passado, quando voltamos ao corpo físico pela reencarnação?2
20. Sabe por que Deus permite que você tente infelicitar seu antigo amigo?
- Deve ser porque é justo, né?
21. Uma vez que ele já se arrependeu, já pediu perdão a Deus, Deus permitiu que você fizesse o que tem feito para ser notado e socorrido, como seu amigo já foi. Agora é você que precisa dar esse passo. Nós o ajudaremos com as nossas preces, e Deus o sustentará a voltar à morada paterna.
- Eu não preciso de ajuda. Vocês querem me atrapalhar, é só o que sei. Vou embora desse lugar.
22. Nós queremos o seu bem e vamos continuar pedindo a Deus por você.
(Por psicofonia, dia 11 de outubro de 2023.)
Observação: enviamos esses diálogos para a esposa do Sr. N. Ela os leu e nos respondeu: "parece que estou ouvindo meu marido falar." Ela também nos disse que ele tem preferência por assistir filmes de guerra, documentários que falam de guerras e assuntos semelhantes.
Instruções dos Guias sobre a situação do Espírito obsessor
(Sessão familiar - dia 14 de outubro de 2023.)
Iniciamos essa sessão pela evocação do presidente espiritual do grupo curador, Allan Kardec, para trazer-nos instruções e orientações sobre a situação do Espírito obsessor, antes de chamá-lo novamente. Obtivemos a seguinte comunicação:
"Muito nos toca a situação desses Espíritos que, retidos pelo sentimento de ódio, de egoísmo, se entregam às mais baixas ações; todavia, Deus quer que seus filhos retornem ao bom caminho e assim será.
Esse Espírito, com o qual nos ocupamos, dá mostras de cansaço e já começa a perceber que suas ações não têm alcançado seus objetivos; no fundo de sua consciência ele nota a mudança naquele que tem por inimigo, mas não quer admitir. Depois de sua evocação e das conversas que tivestes com ele, mostramos-lhe o resultado das atitudes que ele tomou naquela ocasião em que estava no corpo, porque ficara tão absorvido pelo ódio que não se dera conta das consequências de suas ações. Aqueles que voltam o olhar apenas para si próprios, julgando-se vítimas, não ponderando as fraquezas e as dificuldades do próximo, agem sob o impulso do egoísmo e geram as mais infelizes consequências, por falta de indulgência e de perdão.
Falai a esse Espírito sobre a responsabilidade que cabe a cada um por seus próprios atos; que cada um dos envolvidos, no que ele chama de barbárie, precisa assumir a parte que lhe coube naquele triste evento. Logo ele entenderá que não há vítimas perante a justiça divina, e que a hora de refazer o caminho é agora."
Allan Kardec
(Psicografada dia 14 de outubro de 2023.)
Terceira conversa
Evocação, em nome de Deus.
- Estou aqui!
1. Quer nos dizer o seu nome para que o chamemos por ele?
- Não vejo que faça alguma diferença, já que me chamam mesmo sem saber o meu nome.
2. Isso é interessante, não é? Nós não sabemos o seu nome, nem quem você é, mas Deus sabe, porque é onisciente. Quando o chamamos em nome de Deus, que conhece o seu sofrimento, você vem. Essa é uma lei perfeita do bom Deus que nunca abandona seus filhos.
- Não sei como fazem, sei que me chamam e que venho.
3. Ouviu as palavras de Paulo, o grande Apóstolo, que lemos há pouco sobre o perdão?3
- Ouvi. Como posso perdoar uma falta que não foi apenas um pequeno arranhão, mas que significou muitas vidas perdidas e uma injustiça? É fácil dizer perdoe, esqueça, mas só quem passa pode saber o que realmente passou.
4. As palavras que lemos há pouco foram escritas por alguém que sofreu muito, que foi condenado sem apelação e assassinado sem ter feito qualquer mal àqueles que o mataram. Ele começa dizendo "Perdoar os inimigos é pedir perdão para si mesmo." Essa frase não lhe toca de alguma maneira?
- Eu não estou dizendo que nunca fiz nada errado, eu sei que algumas coisas foram feitas de maneira impensada, eu sei disso, mas não precisava ter sido como foi depois.
5. As pessoas erram por fraqueza, porque ainda são imperfeitas. Se você admite que também já deu passos em falso, não poderia considerar a fraqueza do próximo, especialmente daquele de quem busca vingar-se, e encontrar razões para perdoar?
- Se for assim, nenhuma justiça será feita.
6. Você tem uma noção errada de justiça. Vingança nunca foi justiça, e só gera mais violência, mais sofrimento. Criaturas imperfeitas podem errar, mas também podem se arrepender e tomar a boa via. Certamente muitos daqueles que sofreram naquela época, como você, estão numa situação bem diferente da sua, porque perdoaram e seguiram o bom caminho. Vê alguns deles aqui em nosso meio?
- Não acredito que os que passaram o que passamos tenham deixado para lá, não acredito que isso seja possível.
7. Eles estão com você nessa vingança?
- Não, mas deveriam estar, porque se estão aqui, como você diz, são fracos.
8. O perdão é para as grandes almas, a vingança é para os fracos. Eis aí um grande engano alimentado por boa parte dos Espíritos imperfeitos. Vê aqui quantos bons Espíritos se ocupam com você nesse momento?
- Sim, há outros Espíritos aqui.
9. Se você fosse entrevistar alguns deles, poderia se espantar com o que passaram e o que eles perdoaram, por isso são felizes e o convidam a fazer o mesmo. A força que você tem em si, dirigida hoje para a vingança, poderá se transformar num desejo sincero de perdão, aí sim, você será ainda bem forte.
- Todo o meu tempo aplicado até agora nesse objetivo será perdido, se eu simplesmente virar as costas e deixar para lá, como fizeram esses. Isso não faz sentido!
10. Mas é a única maneira de você reparar a sua consciência perante Deus e livrar-se de tudo o que lhe atormenta. Entregue suas preocupações a Deus, que dá a cada um segundo suas obras. Confie na justiça divina, pois ela é perfeita.
(Depois de alguns instantes) - Eu não entendo como eles podem ter esquecido e vir aqui me dizer que tudo deve ficar no passado! O passado é tão presente para mim, que não há passado. Eu sei que não tomei uma boa decisão quando fiz o que fiz, mas daí a deixar tudo como está, eu não sei como podem pensar assim.
11. Gostaria de ouvir as razões deles, por intermédio daquele que os representa neste momento?
- Seria razoável eu entender.
12. Então ouça e nos conte, pois nós também queremos saber, mas não podemos ouvir diretamente desse que lhe fala agora.
(Depois de alguns instantes) - Ele diz que fomos todos vítimas do nosso próprio orgulho e que uma grande soma de mal também nós fizemos, porque só olhamos para os nossos interesses. Como poderíamos olhar para outra coisa? E já se passou tanto tempo! Ele diz que aqueles que nos comandavam nos manipularam o tempo todo. Eu achava que a covardia era só da parte desse que tenho perseguido, mas ele também foi vítima de uma covardia muito maior. Preciso pensar em tudo isso. Agora vou embora.
(Por psicofonia, dia 14 de outubro de 2023.)
Quarta conversa
(Sessão familiar - dia 17 de outubro de 2023.)
Algumas perguntas tinham sido preparadas com antecedência, mas o Espírito se decidiu por ditar a comunicação que se segue:
"Naquele tempo havia três frentes disputando qual seria a melhor estratégia de campanha a ser adotada: uma delas acreditava que, invadindo com todas as forças o território inimigo, sem uma gota de compaixão, tendo por objetivo o extermínio do adversário, terminaríamos o conflito. Outra defendia a ideia de que sairíamos humilhados em nosso orgulho pela habilidade que demonstrava o inimigo em permanecer de pé nos momentos mais intensos da batalha. A outra corrente defendia a ideia de buscar alianças, na esperança de paz; porém, o interesse particular dos que comandavam, ávidos pela supremacia absoluta do Estado, era somente manter o poder a todo custo, preservar os benefícios de que desfrutavam, ainda que à custa de sacrifícios humanos; assim, omitiram suas verdadeiras intenções e estratégias, fingiram alianças, jogaram seus aliados uns contra os outros, prevendo o desfecho que esperavam. Foi assim que os chamados traidores foram torturados por aqueles que, também enganados, acreditavam vingar a pátria e o Estado, e que também já haviam comprometido sua moral, sua honra. Lamentável trama que gerou tanta dor e desesperança!
Hoje venho dizer que a dor ainda me consome, mas agora a vergonha me faz lamentar meus atos. Um pelotão de amigos veio me tirar do abismo, e é certo que um recomeço me aguarda, como faz hoje o Sr. N.
Peço que orem por minha alma, e eu acharei um meio de refazer o caminho."
Victor
(Psicografada dia 17 de outubro de 2023.)
Observação: assim que o grupo passou a orar pelo Sr. N. e pelo Espírito obsessor, houve uma significativa melhora no ânimo do primeiro, conforme nos informou sua esposa. Desde então ele passou a realizar atividades de reparo, de pintura em sua casa e a calma voltou a reinar em seu lar.
A desistência da vingança por parte do Espírito de Victor, como se nota na comunicação acima, foi um verdadeiro presente de aniversário concedido por Deus ao Sr. N., cuja data de nascimento é 17 de outubro.
Quinta conversa
(Sessão familiar - dia 24 de outubro de 2023.)
Nesta sessão, evocamos o Espírito de Victor para saber suas notícias. Após uma tocante comunicação ditada por João Evangelista a respeito da importância das reuniões espíritas, ele ditou as seguintes palavras:
"Hoje venho a essa reunião não mais constrangido, e isso me permite ver o que não via em outros momentos quando aqui estive. Vejo uma claridade intensa e brilhante invadir essa sala; ela se derrama suave sobre todos e uma grande alegria vibra no ar. Desculpem-me a admiração, mas confesso que jamais havia sentido tanto refrigério em minha alma.
Sei que blasfemei o nome de Deus, mas a revolta me cegava, o orgulho me fazia justificar minha insanidade, e assim deixava de refletir sobre o Criador, ao qual fui ensinado, desde tenra idade, quando no corpo, a adorar. Agora reconheço minha impiedade e me coloco diante dele, sabendo que é preciso assumir a responsabilidade pelas faltas cometidas e que cada um responde por si. Ouço me dizerem, os vossos Guias, que a mesma coragem da qual me servi para combater o que eu entendia ser o mal, agora preciso buscar para vencê-lo em mim mesmo: é a coragem do soldado na batalha, mas que de antemão já vislumbra a vitória.
Agradeço por se ocuparem comigo."
Victor
(Psicografada dia 24 de outubro de 2023.)
Observação: a presença dos bons Espíritos nas reuniões toca as almas de Espíritos e homens que dela participam. Foi o que levou Victor a dizer: "Vejo uma claridade intensa e brilhante invadir essa sala; ela se derrama suave sobre todos e uma grande alegria vibra no ar."
Instruções dos Espíritos sobre esse caso
A fim de aprofundar nossa compreensão a respeito de certos pontos dessa obsessão, pedimos instruções ao Sr. Allan Kardec. Fizemos algumas observações e propusemos a ele algumas perguntas.
Observação: o Sr. N. trabalhou cerca de 30 anos em um grande banco, tendo iniciado como auxiliar de contabilidade, chegou a ser gerente de várias agências do tal banco. Ele era um trabalhador exemplar, fazia todos os esforços para cumprir seus deveres profissionais com esmero; jamais deu motivos de queixa aos seus superiores nem aos seus inferiores. Tinha fé, ainda vacilante, mas fazia preces, e sua vida junto à família era tranquila. No entanto, quando faltavam poucos anos para se aposentar, foi demitido sem qualquer justificação. Isso o levou a um estado de alma deplorável. Ficou anos numa situação que se poderia chamar de depressão. Apenas seu neto e os sobrinhos pequenos que o visitavam o alegravam. Ele cuidava das crianças com bastante carinho e atenção, e elas, hoje todas adultas, ainda o amam como quando eram pequenas.
- Por que a demissão do banco no qual trabalhava há anos causou tanto sofrimento ao Sr. N.?
2. Considerando que o Espírito de Victor obsidiava o Sr. N. há muito tempo, querendo levá-lo à loucura, o que o impediu de lograr êxito em seu objetivo?
3. Tendo sido ensinado ao Victor, quando encarnado, a adorar Deus desde tenra idade, isso o ajudou de alguma maneira a desistir da vingança?
Obtivemos as seguintes respostas:
"Caros amigos, aqui venho instruir-vos, em nome de Deus.
O Sr. N. dedicou grande parte da sua vida a cumprir a lei do trabalho, do ponto de vista terreno, dando ao seu cérebro uma ordem necessária à execução de suas tarefas. Ainda que não houvesse a fé em Deus a sustentar-lhe os passos, havia o amor aos seus filhos e à sua família como um todo, o que não deixa de ser uma maneira de devotamento, ainda que restrito, o que Deus sempre leva em conta. Foi essa faceta de seu caráter que o protegeu da loucura, em virtude do fortalecimento continuado de seu cérebro; foram os anos de trabalhos realizados, por amor aos seus, que lhe serviram de forte preservativo contra a loucura. Por mais que tentasse, o Espírito de Victor se deparava com uma alma cujos pensamentos eram como salas contíguas perfeitamente organizadas; com faculdades bem cultivadas durante anos de trabalho bem aplicado que não poderiam ser abaladas com facilidade.
No entanto, se o trabalho lhe foi útil para evitar a loucura, não se pode dizer o mesmo a respeito do efeito que lhe gerou a perda de seu emprego que, pela falta da compreensão do elemento espiritual, foi colocado em sua vida como o bem supremo, ao lado de sua família. É aparentemente paradoxal que aquilo que o preservou da loucura tenha sido, ao mesmo tempo, a principal causa de seu sofrimento, o que ocorreu porque ele negligenciou o dever de amar a Deus acima de todas as coisas, dedicando seu amor ao trabalho terreno e às alegrias que esse trabalho lhe granjeava, bem como à estabilidade que isso representava para sua família. É compreensível o motivo pelo qual a perda desse valiosíssimo bem, na falta de uma inteligência perfeita da lei de Deus, lhe tenha gerado tanto sofrimento.
Quanto ao Espírito de Victor, de fato foi-lhe ensinado a adorar a Deus durante sua vida terrena, mas tal ensino foi sufocado, de certa maneira, por sua revolta contra o Criador; e, quando ele buscava infelicitar um de Seus filhos, desejando-lhe o mal, era contra Deus que agia, sem compreender que não há injustiças do ponto de vista das leis divinas, entregando-se assim a uma revolta que o fez esquecer as lições hauridas em sua vida. No entanto, tais ensinos não estavam extintos, razão pela qual as conversas que tivemos com ele puderam mais facilmente reavivá-los; o sentimento religioso de outrora tinha já uma base para desenvolver-se, um ponto de partida para a combinação de novas ideias. Disso resulta que nenhuma boa semente lançada na alma infantil se acha totalmente perdida, ainda que fique temporariamente adormecida. Tende certeza de que nenhum esforço na educação daqueles que estão sob a vossa responsabilidade se perderá no curso do tempo, ainda que em algum momento eles tenham se afastado do bom caminho."
Allan Kardec
(Psicografada dia 17 de janeiro de 2024.)
Sobre a loucura
"É necessário, pois, distinguir a loucura patológica da loucura obsessional. A primeira é produzida por uma desordem nos órgãos da manifestação do pensamento. Notemos que nesse estado de coisas não é o Espírito que é louco, porque ele conserva a plenitude de suas faculdades, como o demonstra a observação. Contudo, estando desorganizado o instrumento de que se serve para manifestar-se, o pensamento, ou melhor, a expressão do pensamento é incoerente.
Na loucura obsessional não há lesão orgânica. É o próprio Espírito que é afetado pela subjugação de um Espírito estranho que o domina e comanda. No primeiro caso é preciso tentar curar o órgão doente; no segundo, basta livrar o Espírito enfermo do hóspede importuno, a fim de restituir-lhe a liberdade.
Casos semelhantes são muito frequentes e comumente consideram loucura o que não passa de obsessão, para a qual deveriam empregar-se meios morais e não duchas. Pelo tratamento físico, e sobretudo pelo contato com os verdadeiros alienados, muitas vezes tem sido determinada uma loucura real onde esta não existia.
O Espiritismo, que abre novos horizontes a todas as ciências, vem esclarecer também a questão muito obscura das doenças mentais, assinalando uma causa que até agora não era levada em conta, uma causa real, evidente, provada pela experiência e cuja verdade mais tarde será reconhecida. Mas como convencer a admitirem tal causa aqueles que estão sempre dispostos a mandar para os hospitais de alienados quem quer que tenha a fraqueza de acreditar que temos alma; que essa tem um papel nas funções vitais, que ela sobrevive ao corpo e pode atuar sobre os vivos?
Graças a Deus as ideias espíritas, para o bem da Humanidade, fazem maior progresso entre os médicos do que era dado esperar, e tudo leva a crer que em futuro não muito remoto a medicina sairá, enfim, da rotina materialista."4
__________
1 O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V - Bem-aventurados os aflitos - Causas atuais das aflições; e Causas anteriores das aflições. Veja-se também: O Livro dos Espíritos - Lei de destruição - Guerras.
2 Veja-se: O Livro dos Espíritos - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos, cap. VII - Da volta do Espírito à vida corporal - Esquecimento do passado.
3 O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X - Bem-aventurados os que são misericordiosos - Instruções dos Espíritos - Perdão das ofensas, item 15.
4 Revista Espírita, abril de 1862 - Epidemia demoníaca na Sabóia

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