Cura de obsessão sofrida por um menino autista
Desde o nascimento do menino Henrique nós acompanhamos a sua história, porque sua avó materna trabalha como diarista para alguns membros do nosso grupo familiar, há mais de vinte anos.
Por tratar-se de uma situação que nos parece comum nos dias de hoje, vamos reproduzir aqui os pontos que julgamos serem de interesse geral e podem elucidar certas questões de saúde, à luz do Espiritismo, e dar a compreender a justiça e a misericórdia de Deus.
Vamos iniciar pelo relato que nos foi enviado pela mãe do menino Henrique, em janeiro de 2022:
Gravidez, nascimento e primeiros meses de vida
"Henrique nasceu em setembro de 2011, de parto normal, com 39 semanas de gestação. Foi uma gestação tranquila, sem intercorrência.
Quando ele tinha aproximadamente 6 meses de idade, teve pneumonia, foi medicado e depois de alguns meses teve novamente; depois disso não teve mais. Minha mãe relatou que um dia ela estava trocando a roupa dele e ele teve uma convulsão, quando tinha aproximadamente 10 meses. Às vezes engatinhava em círculos, rapidamente, como se estivesse fugindo de alguém, depois sentava, chorava, respirava com dificuldade como se sufocasse, arranhava os olhos como se quisesse arrancá-los. Só com muita dificuldade conseguíamos acalmá-lo.
Primeiros anos - creche, conselho para buscar ajuda
Quando ele tinha 1 ano de idade, a responsável pela creche onde ele ficava durante o dia, me chamou para conversar, relatando alguns aspectos do Henrique que tínhamos que investigar (falta de contato visual, seletividade na alimentação, não gostava de brincar com nenhuma criança) e me encaminhou para uma psicóloga, mas não o levei porque não achava necessário.
Quando o Henrique tinha 1 ano e seis meses de idade, teve outra convulsão.
Na época ele viajou, sem os pais, com sua avó paterna para uma cidade distante, para visitar alguns parentes. O menino foi bastante contrariado, pois não queria ficar longe dos pais. Nessa época parou de falar; não queria mais ir para a creche; vomitava todos os dias quando tinha de fazer alguma coisa que não queria.
Aos 2 anos
Quando tinha 2 anos, já em outra creche, fui chamada de novo. Procurei um neuropediatra, que me deu o diagnóstico de autismo. Começou com a medicação Rispiridona 0.035ml. Esse remédio o ajudou por alguns anos, porém não fazia mais efeito e ele engordou muito; tentamos o Depakene, também não fez efeito; Fluoxetina, sem efeito. Quando tinha uns 6 anos, voltamos para o Rispiridona, que ele tomou por mais alguns anos.
Aos 9 anos - uma mudança drástica
Quando o Henrique fez 9 anos, começou a tomar Aristab, e esse medicamento parece que o mudou drasticamente; ele se tornou uma criança muito estressada, começou a falar coisas relacionadas à morte, então a médica suspendeu o remédio; suas manias aumentaram muito. Ele vive 24 horas com 2 brinquedos na mão, batendo um no outro; corre sem direção, faz alguns barulhos, repete a mesma palavra toda hora. Por exemplo: ele falava TOTO (essa é uma palavra que ele fala muito) ele fala isso o dia todo; ele não é alfabetizado, mas esse ano (2022) vai começar a estudar em uma escola para criança especial.
Alimentação
Henrique é muito seletivo com sua alimentação: não come nenhum tipo de salada, verduras, arroz; come basicamente feijão com farinha, pão ou bolo; não gosta de pessoas estranhas, somente dos familiares que convivem com ele.
Sensibilidade na audição e limitações em geral
Henrique tem alta sensibilidade auditiva.
Não sabe se limpar: toda vez que vai ao banheiro precisa de ajuda, tem dificuldade para entender quando pedimos algo a ele. Ele tem muita dificuldade na fala, que ainda é bem infantilizada.
Outra mudança drástica
Faz uns 4 meses que ele mudou drasticamente: chora desde a hora que acorda até a hora de ir dormir. Esteve extremamente agressivo, chegou me agredir umas duas vezes.
Mais para o final do ano passado (2021), logo depois que a médica tirou o Aristab, ele teve uma crise nervosa muito forte, só gritava e chorava muito. Ele queria tomar um milkshake, então saímos para o comprar e ao sair do mercado demos a ele, mas ele não o quis tomar de jeito nenhum. Gritava e chorava muito, então começou a ajuntar-se muita gente em volta de nós. Depois de muita luta, nós o colocamos no carro, e nisso ele mordeu a gente, empurrou, e fomos direto para a UPA. Lá, a médica, junto com os agentes da SAMU, colocaram ele na maca, todo amarrado, deram-lhe 5 doses de um sedativo forte, que não fez efeito totalmente. Trouxemos ele para casa e ele acordou ainda mais bravo; falava o tempo todo que nós éramos maus, que o levamos ao médico para que o matassem, e dizia que nos odiava.
Diagnóstico do psiquiatra: deficiência mental e autismo
A neurologista que havíamos consultado nos encaminhou a um psiquiatra, dizendo que a situação do meu filho não estava mais ao seu alcance, que não o poderia ajudar. Consegui uma consulta com um psiquiatra, ao qual relatei tudo. Ele nos deu mais um diagnóstico; explicou que meu filho é deficiente mental e autista. Pediu um exame de QI e disse que o menino tem uma compreensão muito limitada, que provavelmente não vai conseguir se alfabetizar. Disse que ele tem piorado muito e que pode ainda piorar muito mais. Hoje ele mudou o remédio do Henrique para Neuleptil, 4 gotas de manhã, 4 à tarde, e 9 à noite. Henrique se acalmou, mas muito pouco; esse remédio ainda está sendo testado nele."
No início de dezembro de 2023, tomamos conhecimento de que Henrique vinha passando por reiteradas crises de irritação, de agressividade no trato com seus pais e avós, gritava, xingava alguém invisível, mandava esse alguém calar a boca, e até chegou a falar que queria morrer. Sua mãe nos disse que o psiquiatra que acompanhava o menino há algum tempo, disse-lhe que seu filho agora estava sofrendo de esquizofrenia. Ela então entrou em desespero. Não sabia mais a quem recorrer. Estava exausta e não vislumbrava uma saída para essa triste situação. Todos os recursos que ela conhecia se esgotaram: médicos, psicólogos, psiquiatras, rituais e orações feitos pela congregação religiosa da qual sua mãe faz parte, e nada de melhora.
Dissemos a ela que não perdesse a esperança, que tivesse fé em Deus, que sempre ouve as preces feitas de coração, e que iríamos buscar o auxílio dos anjos guardiães, pois sabemos que nos anjos eles acreditam. Foi o que fizemos.
Sessão do dia 28 de dezembro de 2023
Caros Guias, pedimos vosso auxílio em favor do menino Henrique, que há anos sofre e faz sofrer.
1. Qual é a causa das crises que acometem o menino Henrique?
2. Num de seus acessos de cólera ele parecia tentar expulsar alguém invisível que estaria por perto, pois atirava travesseiros no chão e gritava: sai, sai. O que se passava com ele naquele momento?
3. É possível fazer cessar essas crises?
4. Se é possível, podemos ser úteis para esse fim?
5. Pedimos vossos conselhos e orientações para que possamos auxiliar essa família sob vossa assistência.
Eis a comunicação obtida:
"Há um Espírito que persegue o menino por vingança, por ter sido prejudicado por ele no passado. A família, arrependendo-se de suas ações, antes de reencarnar, fez a escolha de seguir o caminho do bem, buscando na fé o sustento para essa existência, que seria de provas difíceis e acertos de contas importantes com inimigos do passado.
A inteligência do menino, agora prejudicada, evita a exacerbação do orgulho que outrora foi gerador de tanto sofrimento para aqueles que o rodeavam. A evocação do Espírito que exerce vingança será para ele muito útil, pois poderá abrir-lhe os olhos para a possibilidade de compreender Deus e sua justiça e assim fazer escolhas que lhe tragam uma felicidade real.
Posteriormente podem evocar o Espírito do menino, enquanto ele dorme, que será proveitoso para ele e trará para vós boas instruções."
Albert Schweitzer
(Psicografada dia 28 de dezembro de 2023.)
No dia 30 de dezembro, em sessão particular, fizemos as mesmas perguntas ao Sr. Allan Kardec, presidente do nosso grupo curador, por um médium que não faz parte do grupo familiar e desconhecia a comunicação acima, dada sobre o assunto.
Eis o que nos foi dito:
"O menino Henrique sofre de uma tenaz obsessão por vingança. Todavia, a obsessão não é a causa eficiente do desarranjo de seu organismo, que é uma prova para ele e para os pais. O Espírito que o obsidia se aproveita dessa condição para dominá-lo, e o cenário que se apresenta nas crises é resultado real da luta do encarnado contra o Espírito que quer subjugá-lo.
Pela condição do corpo do menino e de seu próprio Espírito ainda imperfeito, a sua vontade está fragilizada. Como encarnado, ele não consegue compreender a importância de pedir a Deus o alívio de seus sofrimentos, pois lhe falta entendimento para tanto. Nossa recomendação para esse caso é a evocação do Espírito obsessor e na sequência a do menino, quando este estiver emancipado pelo sono, pois se ele for orientado como Espírito, semiliberto, durante o repouso do corpo, ele poderá haurir mais forças e resignação para enfrentar sua prova. Podereis assim obter boas instruções nas conversas com um Espírito encarnado em tais condições, bem como entender melhor a liberdade do Espírito na escolha das provas.
É importante esclarecer os familiares sobre o que se passa com o menino, e falar-lhes do comprometimento que deverão ter nesse processo, pois eles também estão sendo provados e poderão, com seu devotamento e suas preces, auxiliar na cura dessa obsessão."
Allan Kardec
(Psicografada dia 30 de dezembro de 2023.)
Em nossa primeira sessão, depois do recesso de final de ano, iniciamos as conversas com o Espírito obsessor, seguindo as orientações dadas pelos nossos Guias.
Vamos reproduzir apenas as partes que possam elucidar os motivos do Espírito obsessor, bem como sua maneira de agir sobre o menino.
Primeira conversa
(Sessão do dia 23 de janeiro de 2024.)
Evocamos, em nome de Deus, o Espírito obsessor do menino Henrique. Ele entrou a falar nestes termos:
- Eu não tenho a mínima ideia de quem são vocês, mas sei porque estão me chamando aqui. Sabem aquela história de que as aparências enganam? Então, aquele por quem vocês se enchem de compaixão é um monstro, e eu também sou, então não vamos perder o nosso tempo aqui.
1. Se é como você diz, nós queremos ajudar esses dois monstros, que são filhos de Deus e têm no fundo da alma os elementos de origem divina e por isso não podem permanecer monstros por toda a eternidade, porque Deus assim não o quer.
- Olha, eu aprendi na própria pele que quem der o primeiro tapa sai ganhando. Então eu não estou aqui à toa e disposto a nenhum tipo de conversa que não faça sentido para mim. Eu já mostrei o que sou capaz de fazer e não me importo se tiver mais dois, três, quatro, quantos inimigos for preciso enfrentar.
2. Você está enganado, pois não terá em nós inimigos. Sabemos que você sofre e carrega voluntariamente as correntes que o escravizam e infelicitam, e só queremos ajudá-lo a livrar-se delas.
- Saiam do meu caminho e está tudo certo! Eu vou fazer ele sofrer e também toda aquela família. Se eu tenho hoje uma lança cravada no meu peito é porque foi colocada aqui por ele! (Ao dizer isso ele bate com a mão no peito do médium) Agora é a minha vez de revidar bem devagar, com calma, mas as coisas se darão como é para ser.
3. Nós queremos ajudar você a tirar essa lança do seu peito, como você diz, porque o que você faz, acredite ou não, mais e mais aprofunda a tal lança em si mesmo. Queremos ajudá-lo a lembrar de quem você verdadeiramente é, e a buscar se ocupar com coisas que o farão feliz, pois o ódio só o infelicita mais e mais.
- Vocês falam como alguém que nunca enfrentou um monstro, então não venham com essa conversa, porque eu sei onde estou pisando.
4. Você nos disse que também é um monstro, então estamos diante de um. Nós só queremos que expulse esse monstro de dentro de si mesmo, porque é ele que o está roendo por dentro, sabe Deus há quanto tempo! Queremos ajudá-lo a vencer esse monstro chamado ódio.
- É o ódio que me ajuda, por incrível que pareça. É ele que me movimenta, e não vou permitir que vocês me atrapalhem.
5. Você não vê que o menino já está expiando as próprias faltas, nascendo num corpo que não responde totalmente aos seus anseios?
- As aparências enganam, enganam muito. Ele quis até me enganar, mudando de aparência, mas não vai mais fugir.
Observação: o Espírito se refere ao novo corpo que o menino revestiu, pela reencarnação, ao "nascer de novo", como disse Jesus.1
6. Nós queremos ajudá-lo a livrar-se desse monstro que você tem alimentado, antes que ele lhe devore. Para nós você não é um monstro, é apenas alguém que sofre e deve parar de sofrer porque Deus assim o quer.
- Vocês só estão me atrapalhando. Aqui eu não posso muito, mas daqui a pouco vocês verão o que vou fazer.
Observação: o Espírito foi mesmo acordar o menino, que dormia sob o efeito de fortíssima medicação. A mãe dele disse que o filho acordou aos gritos, xingando e lutando com alguém que só ele via. Foi com muita dificuldade que os pais conseguiram acalmá-lo.
7. Nós pedimos que busque se observar um pouco, que pense no que tem feito. Volte o olhar para o futuro feliz que lhe aguarda, quando deixar de fazer o mal. Procure imaginar-se fazendo algo bom. Certamente isso vai contrariar o monstro aí dentro, mas vai ser benéfico, e fará com que ele se cale, a fim de que você possa livrar-se dessa lança cravada em seu peito.
- Nada do que você fale vai me convencer. Eu vou embora, mas deixo o aviso: não se metam nos meus negócios!
8. Perceba o nosso desejo sincero de vê-lo livre desse inferno, pois é o que nós mais queremos. Que Deus o abençoe e o desperte desse pesadelo.
(Por psicofonia, dia 23 de janeiro de 2024.)
Instruções dos guias
Evocamos nosso guia Albert Schweitzer, anjo guardião do médium que servia de intérprete ao Espírito obsessor, e nos havia dito há alguns anos que podíamos contar com ele nas curas de obsessões. Ele, que foi médico na terra, continuou como Espírito seus estudos sobre a saúde e a socorrer seus irmãos encarnados ou desencarnados. Eis a comunicação que obtivemos assim que o chamamos:
- Estou aqui, meus amigos.
1. Nós lhe agradecemos por atender ao nosso chamado. O senhor poderá nos assistir na cura da obsessão que sofre o menino Henrique?
- Sim. Estamos unidos e estendemos a mão a esses pobres irmãos que sofrem. Por enquanto, é lastimável a situação desse Espírito, porque ele busca apagar de sua memória todo o mal que praticou, justificando-se pela ação de outros, que também cometeram faltas, mas que, arrependidos, pediram a Deus novas oportunidades. Ele, porém, cegou a si mesmo pelo ódio, pela inveja. Outrora, em determinado momento, ele fora detido por aqueles mesmos que eram seus cúmplices, porque perceberam que o mal que faziam atingia proporções intoleráveis; mas, por conveniência, ele ignora esse fato; é por isso que diz não lembrar daqueles que o amavam, porque eles preferiram vê-lo fora do corpo a continuar cometendo as barbaridades que cometia. Foi um ciclo de violências que se repetiu por várias encarnações e foi na sua última encarnação, quando foi morto pelos próprios comparsas, que ele bloqueou a própria memória.
2. É por essa razão que ele não consegue se livrar da tal lança cravada em seu peito, mas diz que a mantém por vontade própria?
- Sim. Ele carrega o peso de todos os crimes que cometeu com esse mesmo tipo de arma, agora cravada em seu peito. No entanto, chegou o tempo de ele perceber que há um novo caminho que Deus lhe oferece, pois quase todos aqueles aos quais ele fez sofrer, agora percebem com pesar o sofrimento dele e pedem a Deus que o perdoe. É o perdão de suas vítimas de outrora que abre para ele o caminho que o reconduzirá a Deus; nessa via não há atalhos: é preciso desenvolver na alma, verdadeiramente, as condições para se ter uma vida diferente. No entanto, antes que isso aconteça, ele buscará acirrar os ataques à família. Então uni-vos em preces por ele e pela família, para que eles tenham calma e fé, que logo mais tudo se restabelecerá, segundo o tempo de Deus. Chamai o Espírito e continuai vossos diálogos com ele.
3. Nós lhe agradecemos por atender ao nosso chamado, caro amigo Albert.
- Contai com a nossa assistência.
(Por psicofonia, dia 24 de janeiro de 2024.)
Segunda conversa
(Sessão do dia 24 de janeiro de 2024.)
Evocamos o Espírito obsessor e ele logo se comunicou, dizendo:
- Uma coisa é certa, vocês só estão servindo para me ajudar a agir com mais força, porque eu não vou deixar vocês me atrapalharem. Até agora tudo estava caminhando bem, mas se querem se intrometer, vai ser assim.
Observação: o Espírito se refere ao ataque que levou a efeito na noite anterior, conforme nos foi relatado pela mãe do menino.
1. Percebe que, quando fala dessa maneira, a lança lhe fere com mais força?
- Eu disse que essa lança que trago cravada no peito me ajuda a não esquecer o que tenho que fazer, me ajuda a lembrar quem são esses que vocês buscam ajudar, mas eu sei quem é cada um deles, isso eu sei.
2. Deus sabe quem é você, pois foi ele que o criou para ser feliz por toda a eternidade. Por que então se demorar mais tempo cultivando essa dor?
- Quem acredita em felicidade? Não há felicidade, só há uma possibilidade: pagar o mal com o mal, é isso!
3. Você está magoado, esqueceu de si mesmo e daqueles que o amam e fez isso por vontade própria, agora só consegue lembrar da desgraça. A felicidade existe, e muitos Espíritos felizes aqui estão lhe convidando a ser tão feliz quanto eles o são e possa então esquecer esse miserável passado que lhe atormenta.
- Tudo ilusão, o fato é que um grande mal foi feito e chegou o momento de o culpado pagar pelo que fez, com justiça. Se eu pago o preço de carregar isso no meu peito, tenho todo o direito de devolver a quem o colocou aí.
4. Esse direito é falso e foi inventado por você. Se quiser refletir sobre a sua vida, sobre a sua trajetória antes do tal conflito, verá que tem censuras a fazer a si mesmo, e perceberá que não tem razão para se queixar. Ouviu a prece que fizemos por você no início?
- Eu vi que me chamavam, mas não me agrada estar aqui, não mesmo!
5. Então por que vem?
- Porque vocês me chamam e me incomodam com esse chamado.
6. É um chamado ao qual você não pode resistir, não é mesmo? Essa força que o atrai para cá, por mais que você resista não conseguirá evitar, porque é a força do amor de Deus que quer que você pare de sofrer. É importante que compreenda as razões do sofrimento pelo qual passou e ainda passa, que repense o que vem fazendo e veja que o que faz só irá aumentar ainda mais o seu sofrimento.
- Não há força que me fará parar e não vou parar. A única coisa que me alivia é dar o troco, aí eu me sinto melhor porque pago com a mesma moeda.
7. Há outro caminho, mas Deus quer que você opte voluntariamente por abandonar essa vingança e só então poderá ser feliz. Por enquanto você é escravo do ódio, do desejo de vingança. Enquanto estiver voluntariamente acorrentado à família da qual busca vingar-se, você sofrerá.
- Eu os tenho na corrente, é diferente. Não vejo mesmo nenhuma possibilidade de abandonar o que faço, em nome de um caminho que não existe, até porque os tenho agora na minha mão e eles se desesperam. Eu posso garantir a vocês que o desespero deles não chega nem aos pés do sofrimento e das coisas que vi e vivi. Se acham que eu faço as coisas como um animal, é porque não têm ideia do que aquele monstro é capaz de fazer!
8. Consegue lembrar quanto tempo faz que isso aconteceu?
- Não sei, mas para mim parece que foi ontem. E isso não faz a mínima diferença. O tempo não importa, porque agora eu tenho todo o tempo do mundo para resolver essa pendência.
9. Então resolva, mas segundo a vontade de Deus, que é justo e bom. Havia mais alguém com você naquele tempo?
- Claro que sim!
10. Com o que vocês se ocupavam na época?
- Éramos conquistadores e eu ainda sou, porque não me acovardei e não me acovardo.
11. Onde estão as suas conquistas agora?
- Tive que deixá-las todas porque sofria nas mãos desse de quem agora me vingo, mas são só pausas que faço por um tempo.
12. Deus está lhe oferecendo tesouros que você jamais perderá, que ninguém poderá roubar porque tais tesouros estarão em sua alma. Que tal conquistar tesouros verdadeiros e eternos?
- Isso não faz sentido para mim.
13. Busque lembrar de quem estava com você naquele tempo, alguém que o amava, que quer o seu bem e busca despertá-lo desse pesadelo.
- Quem estiver na minha frente vai pagar por isso. Então, seja quem for e como for, que não perca mais tempo comigo. Eu faço o que faço sozinho, e assim vou seguir o que quero. Eu tenho um objetivo e não vou me desviar dele.
14. Não sente algum alívio quando vem falar conosco? Percebe que queremos o seu bem?
- Eu não queria estar aqui. Se pudesse eu acabaria com essa conversa, e com esse...
15. Com quem?
- Com esse por quem eu falo. (Refere-se ao médium.)
16. Por que faria isso se só queremos o seu bem?
- Porque vocês se metem aonde não são chamados.
17. Você que pensa que não somos chamados, pois atendemos ao chamado de Deus para auxiliar um de Seus filhos que sofre e está na hora de parar de sofrer. Poderia pelo menos prometer que vai pensar no que conversamos, considerar que podemos ter razão?
- Eu não acho que vocês têm razão, acho que me atrapalham e assim me forçam a agir mais rapidamente. Eu quero muito que não me chamem novamente.
18. E nós queremos muito chamá-lo para saber se você está melhor. Se dói menos a sua ferida.
- Quanto mais doer, mas eu sei o que tenho de fazer.
(Por psicofonia, dia 24 de janeiro de 2024.)
Terceira conversa
(Sessão do dia 25 de janeiro de 2024.)
Evocação do Espírito obsessor.
- Eu pedi para não me chamarem mais.
1. Nós não pretendemos deixar de chamá-lo enquanto você não estiver livre desse espinho que fustiga seu peito, seu coração, sua alma.
- Nada disso é para mim um mal, porque essas dores que eu trago me dão muito mais resistência.
2. E aumentam ainda mais o seu sofrimento. É como se batesse insistentemente numa faca pontiaguda. Precisa convencer-se disso por si mesmo e abandonar essa loucura. Refletiu sobre o que conversamos ontem?
- Aquilo que você propõe é impossível, impossível abandonar tudo, deixar tudo aquilo pelo que passei de lado.
3. Você pensa assim porque não vê saída para seu sofrimento e se recusa a encarar o passado para ver também o mal que fez. Nós podemos afirmar que Deus é misericordioso e você poderá se livrar desse miserável passado. Assim que fizer um movimento na sua alma para quebrar esse casulo no qual se fechou, perceberá que é possível livrar-se definitivamente do sofrimento.
- Eu sei exatamente o que me causou a desgraça.
4. Lembra-se de ter prejudicado algumas pessoas?
- Todo mundo fez alguma coisa que não agradou a outros, e eu fiz o que era preciso ser feito.
5. Aqueles a quem você persegue também devem ter feito o que acreditavam que era preciso ser feito, cada um de seu ponto de vista. Nas lutas insanas ninguém se preocupa com o que Deus quer que seus filhos façam.
- Traição! Traição, não.
6. Sabe que aqueles aos quais você mais feriu hoje pedem a Deus por você? Em uníssono, rogam ao Pai que cure as feridas que você tem na alma.
- Porque fariam isso?
7. Porque querem ver você feliz. Eles se livraram dos espinhos e querem que você faça o mesmo.
- Vocês não sabem nada do que aconteceu, então como podem dizer isso?
8. Eles sabem e nos falam, não conversamos só com você.
- Eles quem?
9. Aqueles a quem você feriu. Atrás dessa barreira que você mesmo criou, tentando esquecer tudo o que não lhe convém, está o que precisa ser trazido à memória, a fim de que não se julgue vítima, mas reconheça as próprias faltas e busque o perdão de Deus. É preciso pedir a Deus outra oportunidade para recomeçar uma nova vida, escrever uma nova história, da qual jamais irá se arrepender.
- Não sei o que disseram a vocês, mas eu não acho que sou vítima, eu sei que fui ferido e enganado, e esses que vocês agora tratam como se fossem vítimas, não são mesmo, e outros também não são. Eu sei que também usei da força, mas porque era preciso.
10. E o que a sua consciência lhe diz agora, diante do olhar de Deus que é onipresente, que ouve o menor movimento da alma de cada filho seu? O que você diz sobre si mesmo, ouvindo a própria consciência?
- Cada um se defende do jeito que pode. Eu tenho a minha consciência, sei disso, mas trago vivo na minha memória tudo que me foi feito.
11. É importante lembrar também, com mais vivas cores, o que nós fizemos aos outros, senão fica um balanço desequilibrado. Vê aqui alguns dos Espíritos a quem ofendeu, e que antes caminharam lado a lado com você?
- Sim, mas o que importa isso, se estão aqui assistindo ao meu interrogatório?
12. Importa, porque se eles lhe perdoaram, como lemos há pouco nas palavras do apóstolo Paulo que diz: "Perdoar os inimigos é pedir perdão para si mesmo", parece justo que você siga o exemplo deles e faça o mesmo.
- Não sei porque eles estão aqui, preferia que não estivessem.
13. Pelo menos ouça aquele que fala em nome dos demais, pois nada tem a perder por dar ouvidos a eles. Aí você reflete sobre o que ouve e vê se eles têm ou não razão. O que ele lhe diz?
- Que nada daquilo que se passou naquele tempo importa agora. Eu penso que tudo importa, senão nada mais faz sentido.
14. O que ele diz sobre isso? Ouça e use a sua razão.
- Eu não acredito nessa felicidade que se baseia em não olhar para trás, deixar tudo e seguir um novo caminho. E o orgulho, e tudo o que aconteceu? Não pode ser assim.
15. Se não pudesse ser assim você estaria condenado para sempre, não é mesmo? Estaria nesse inferno por toda a eternidade. Você quer que Deus perdoe os seus pecados, não quer?
- Eu nem sei se Deus faz isso, se se importa com essas coisas.
16. Deus é onipresente e onisciente, nada se passa sem que ele saiba. Gostaria que Deus perdoasse as faltas que você cometeu contra as Suas leis, que mandam: "Faça ao próximo o que gostaria que lhe fosse feito, e não faça ao próximo aquilo que não gostaria que lhe fosse feito"?
- Mas acontece que, se não fosse pela força, se não fosse para subjugar, seríamos subjugados. Então só estávamos fazendo o que era preciso fazer em nome daquilo que queríamos fazer.
17. Em nome de conquistar coisas, matar pessoas? Você pode dar um basta nesse sofrimento agora mesmo. Se quiser pedir com sinceridade, esses bons Espíritos que estão aqui lhe mostrarão a verdadeira felicidade a fim de que se convença de que ela existe. Eles podem começar por aliviar seu sofrimento. Você quer?
- Isso me parece tanta fraqueza de espírito. Eu não sei se isso é bom.
18. E não saberá senão experimentando, e nada tem a perder se experimentar.
- Não creio que baste dizer chega e tudo será um mar de rosas. Nunca foi assim, não será agora.
19. Você tem razão, não basta dizer chega, é preciso querer sinceramente e agir de acordo. Deus é um Pai misericordioso, confie nele. Exemplos aqui não faltam, e você os vê. Há muito mais grandeza em perdoar do que em se vingar ou revidar, pode ter certeza.
- E tudo passa ileso?
20. Confie em Deus, que sabe dar a cada um segundo as suas obras. Sempre foi assim e sempre será. Você poderá experimentar alívio em seu sofrimento, se pedir a Deus com o coração. Se lhe falta força para pedir, nós o ajudaremos.
- Nunca me faltou força para nada. Para mim não faz sentido abandonar tudo.
21. Veja que as nossas preces, unidas às desses Espíritos aos quais você ofendeu, já fizeram uma grande diferença. Perceba como eles o envolvem com ternura.
- Como podem fazer isso depois de tudo o que aconteceu? Nada mais faz sentido. Eu já não sei de nada mais.
22. Sente um alívio?
- Sim.
23. Seria muito pedir-lhe que dê uma trégua no que vem fazendo, a fim de ouvir melhor seus antigos amigos?
- E ir para onde? Eu preciso pensar em tudo isso.
24. Será que esses seus amigos não têm um lugar para você junto deles? Parece que o que eles mais querem é tê-lo por perto.
- Diante de tudo isso vou pensar um pouco, mas não prometo, não posso prometer nada agora.
25. Sim, nós queremos que você pense, mas ouça esses amigos que querem o seu bem, depois voltaremos a conversar.
- Está certo.
26. Que Deus o abençoe e que o atraia para o Seu regaço.
(Por psicofonia, dia 25 de janeiro de 2024.)
Quarta conversa
(Sessão do dia 29 de janeiro de 2024.)
Evocação do Espírito obsessor.
- Estou aqui. Eu disse que não me agrada estar aqui, mas não tenho conseguido evitar.
1. Nós só queremos sinceramente o seu bem, então não tem motivos para se sentir mal em nosso meio.
- Não me sinto mal, só contrariado nos meus interesses.
2. Entendemos. Pensou a respeito do que temos conversado ao longo dos dias em que o chamamos?
- Sim, e fiquei um tanto espantado com o que vi e ouvi. Tenho pensando por que esses que foram meus companheiros no passado viriam agora dizer que durante todo esse tempo eu estive como que adormecido?
3. Você julga que eles podem ter razão?
- Sim, até porque com alguns deles eu não tive nenhuma misericórdia e agora eles me olham como se nada tivesse acontecido.
4. Como você se sente quando eles lhe olham dessa maneira?
- Eu não sei bem, mas sinto constrangimento e ao mesmo tempo um certo alívio, porque não preciso me defender.
5. Com o alívio que sente e sabendo que também tinha feito mal a alguém que já lhe perdoou, não acha justo fazer o mesmo com aqueles que lhe ofenderam no passado?
- Então eu teria que deixar tudo para trás... Não sei como eles fizeram, mas para mim é muito difícil.
6. Aquele que os representa poderia nos explicar como ele fez para perdoar, esquecer a ofensa e ainda estender a mão ao ofensor para reerguê-lo?
- (Depois de alguns segundos de silêncio) Ele disse que primeiro tiveram que reconhecer as próprias faltas e, reconhecendo suas fraquezas, puderam perceber as minhas e assim conseguiram me perdoar.
7. Eles poderiam ter seguido em frente e esquecido você, mas não foi o que fizeram. Por que eles voltaram para lhe estender a mão?
- Ele disse que foi porque reconheceram a justiça de Deus e essa justiça pede que se estenda a mão àqueles que mais precisam.
8. Nós os felicitamos por isso, pela fortaleza de alma que têm. Quando você se dispuser a compreender a justiça de Deus, compreenderá o que deve fazer e não mais achará que deixando tudo para trás perderá alguma coisa. Pelo contrário, vai se livrar do seu passado infeliz. E se acha que esse é um ato de fraqueza, pode crer que não é. Eles estão dispostos a ajudá-lo a fazer o movimento que eles já fizeram, não é mesmo?
- Sim.
9. Tem algo a perder se aceitar o convite que eles lhe fazem?
- Já não sei direito. Não sei se perco alguma coisa, mas há um preço que terei que pagar.
10. Confie na misericórdia divina, pois Deus não quer o sofrimento de seus filhos, quer que os culpados se arrependam e tomem a boa via. Quando o culpado se arrepende e quer reparar suas faltas, pede a Deus uma nova oportunidade. Deus então lhe permite renascer num novo corpo, lhe dá o esquecimento temporário do passado, a fim de que agora faça o bem em vez do mal.
- Está certo.
11. Pode nos dizer se é com você que às vezes o menino discute e xinga, assim que acorda?
- É, sim. Às vezes estou junto enquanto ele dorme, mas ele foge para o corpo porque é covarde.
12. Como está a lança, a dor ainda é forte, ou está mais leve?
- Acho que está mais leve.
13. Que Deus lhe dê forças para perdoar e desenvolver as asas de anjo, pois essa é a vontade do Pai.
- Eu preciso mesmo de forças.
14. Deus é um Pai justo e bom, e só dá forças para fazer o bem. Então, se tiver forças não vá mais lá perturbar o menino.
- Está certo, está certo.
15. Essa é uma sábia decisão, pelo qual nós o felicitamos.
(Por psicofonia, dia 29 de janeiro de 2024.)
Quinta conversa
(Sessão do dia 30 de janeiro de 2024.)
Evocação.
- Vocês me chamaram e eu estou aqui.
1. Gostaria de contar-nos o que tem feito desde a nossa última conversa?
- Como eu havia dito, me distanciei um pouco daquela família. Graças a esse distanciamento pude ver abrir-se à minha frente coisas que eu achava que estavam sepultadas para sempre. Mas alguma coisa, que não sei explicar o que é, apresentou-me tudo o que aconteceu no passado diante dos meus olhos, e foi impossível não ver tudo o que eu não queria encarar.
2. Gostaria de contar-nos algo do que viu?
- Vi que, em determinado momento da minha vida, eu fiquei cego pelo poder e pela ganância e troquei as coisas mais valiosas pelo chamado do orgulho, pela embriaguez do poder. Troquei tudo o que agora vejo ser o mais importante, e fui derrotado por mim mesmo, não foi pelos outros.
3. O que isso tudo provocou de bom na sua alma?
- Percebi que nada fica impune na justiça divina, e se eu trazia essa lança cravada no meu peito era porque ela estava manchada com o sangue daqueles que eu não hesitei em sacrificar, em destruir. Agora eu senti na minha alma e entendi que só aqueles que me perdoaram e pediram a Deus por mim podiam retirá-la. Tantas vezes eu quis retirar e não podia, porque o ódio não deixava. Então, agora eu vejo que mais fui algoz do que vítima, essa é a verdade. Embora eu ainda sinta em minha alma uma certa revolta, hoje sei que sou muito culpado por tudo de mal que aconteceu comigo. Eu usei tanta força e violência para conseguir tudo o que queria, para fazer tudo que queria, e não me sentia intimidado por nada nem ninguém, mas diante de tudo o que vi em minha própria consciência, me sinto fraco.
4. Agora você é realmente forte, porque ninguém é mais forte do que quando reconhece a própria fraqueza. Podemos dar a boa notícia para a mãe do menino, dizer-lhe que você não mais o perturbará?
- Eu o deixarei seguir seu caminho, ele também enfrenta momentos difíceis, agora eu vejo.
5. Doravante vamos fazer por você a prece pelos Espíritos arrependidos, para lhe dar forças, coragem, bom ânimo e perseverança nas boas resoluções que tomou. O apoio desses que querem vê-lo feliz não lhe faltará.
- Eu agradeço.
6. Algo mais que queira nos dizer?
- Não, não há nada mais a ser dito neste momento.
7. Que Deus o abençoe.
(Por psicofonia, dia 30 de janeiro de 2024.)
Sessão do dia 20 de fevereiro de 2024
Evocação do Espírito ligado ao Henrique para saber se ele tem perseverado nas boas resoluções e nos contar um pouco mais de sua história.
Sexta conversa
"Havia um lugar, uma casa, onde ao chegar eu descansava minhas ferramentas, e a minha espada. Um lugar onde eu vislumbrava ter paz e um bem viver. No entanto, também havia em minha alma uma inquietude, uma sede de conquistas que crescia e me fazia cada vez mais feroz. Então, aos poucos a pequena casa, o repouso, o ideal, ficaram de lado. Até os que me amavam eu deixei para trás, porque passaram a ser um obstáculo aos meus planos. Aí começou a minha ruína. Formei o que podem chamar de um exército de fanáticos e praticamente loucos, que me seguiam e mantinham a mim lealdade. Avançamos contra os mais destemidos e também atacamos os mais inocentes, e assim os crimes bárbaros foram chegando ao seu ápice. Foi quando, não suportando mais o peso da minha crueldade, esse que agora está no corpo e de quem eu me vingava, que então era meu braço direito, num movimento de lucidez pôs um basta nas minhas loucuras ferindo-me até a morte do corpo. Isso se deu por volta do ano 1200 depois do Cristo. Foi esse tempo que então se cristalizou em minha alma.
O tempo passou e, quando o encontrei e o vi no corpo, naquele estado, não tive dúvidas em atacá-lo, mostrando a ele as minhas piores lembranças das ações das quais ele também fez parte. Quando ele se libertava do corpo pelo sono2, eu o levava aos campos manchados de sangue derramados por nossas mãos. Ainda aí, eu sempre cruel e atormentado, atormentava-o também.
Hoje, uma dor quase insuportável repercute em minha alma, fruto do sentimento de arrependimento, mas que sei que cessará com as minhas novas resoluções. Os Espíritos bons agora me instruem e me mostram o caminho que devo seguir, a fim de apagar esse passado de tantas dores.
Vocês querem saber meu verdadeiro nome, mas não o poderei dizer. Peço que me chamem de "conquistador", como me chama esse bom Espírito que me inspira, diante do qual, por respeito, eu me inclino. Ele disse-me que doravante serei conquistador do reino dos céus.
Agradeço por terem me estendido a mão, pois sou um pobre Espírito que agora expia suas faltas passadas."
Conquistador
(Por psicografia, dia 20 de fevereiro de 2024.)
"Durante o sono, a alma repousa como o corpo?"
"Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos."3
Instruções dos Espíritos
(Sessão do dia 12 de março de 2024.)
Ao Dr. Albert Schweitzer:
1. Caro Albert, foi-nos dito que o orgulho teria sido a causa principal que levou o Espírito de Henrique a nascer num corpo com limitações, mas gostaríamos de entender melhor esse processo. Pedimos que tenhais a bondade de nos esclarecer.
Obtivemos as seguintes respostas:
- Foi uma sucessão de eventos que o levou a apresentar no corpo o que chamam de autismo. A origem de tal situação remonta, sim, aos vícios que o Espírito alimentou em suas diversas existências; o orgulho pode ser considerado preponderante, mas não é causa isolada, nem a única, para esse ou qualquer outro caso semelhante.
1. Qual era a situação do Espírito do Henrique antes de se ligar ao corpo físico?
- Estava errante e não pretendia encarnar para enfrentar as provas a que deveria sujeitar-se. Nisso interveio a providência divina, adequando a vida que o Espírito reencarnante precisaria passar com vistas ao seu progresso moral. Tal adequação se elabora antes e durante o processo reencarnatório, levando-se em conta o livre-arbítrio do Espírito reencarnante, que sempre tem o seu papel. É então que o Espírito rebelde pode desarranjar, por assim dizer, o cérebro que irá utilizar, seja voluntária ou involuntariamente. Ele pode atuar sobre os fluidos do seu perispírito, consciente ou inconscientemente, imprimindo configurações específicas na "máquina" que irá utilizar durante sua vida no corpo.
2. Seria uma autossabotagem?
- Não exatamente. Às vezes esse dano é provocado com intenção de abreviar a vida do corpo, ou mesmo de fugir à imputação por certas ações, por exemplo. É então que o Espírito se esconde em uma deficiência, que ele julga conveniente.
Enfim, o assunto é amplo e aconselhamos que persevereis nesse estudo. Há muitos casos de anomalias na Terra a respeito das quais o Espiritismo pode dar justos esclarecimentos e assim levar as famílias que têm tais casos em seu seio a terem resignação e esperança, pela compreensão das leis de Deus. Sem essa compreensão, em certos casos o cenário pode ser desesperador, se não for visto com os olhos do Espírito e com fé na justiça e na misericórdia de Deus.
3. Atualmente há mais casos de autismo do que antigamente?
- O número é maior por ser proporcional ao aumento da população. Porém, o que percebeis é uma maior divulgação de eventos que sempre existiram com denominações diferentes. Então, não há um aumento desproporcional de casos.
4. Como devemos lidar com isso?
- Com fé e esperança, sabendo que a Terra é um mundo de expiações e de provas, e que nada acontece sem a permissão de Deus, que é soberanamente justo e bom.
Albert
(Psicografada dia 12 de março de 2024.)
No intervalo da concepção ao nascimento, o Espírito goza de todas as suas faculdades?
"Mais ou menos conforme a época, porque ele ainda não está encarnado, mas ligado. Desde o instante da concepção, a perturbação começa a tomar o Espírito, advertido por isso que chegou o momento de começar uma nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento; nesse intervalo, seu estado é mais ou menos o de um Espírito encarnado durante o sono do corpo. À medida que o momento do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual não tem mais consciência, como homem, uma vez que entra na vida; mas essa lembrança lhe volta pouco a pouco à memória em seu estado de Espírito."4
Sessão particular para evocação do Espírito do Henrique
(Dia 5 de abril de 2024.)
Ao nosso amigo e guia Albert Schweitzer
1. Caro Albert, nós nos reunimos com a intenção de evocar o Espírito do menino Henrique. É oportuna a sua evocação nesta sessão?
2. Ele toma um medicamento forte para dormir. O efeito do medicamento poderia ser obstáculo à sua comunicação?
Eis a resposta que obtivemos:
"Podeis evocá-lo e aguardar que ele adormeça para que seu Espírito possa atender vosso chamado.
A medicação que ele toma não afetará a sua comunicação. Seu Espírito, uma vez parcialmente livre, poderá responder segundo sua capacidade e também de conformidade com o que lhe é permitido lembrar de seu passado."
Albert
(Psicografada dia 5 de abril de 2024.)
Sessão do 5 de abril de 2024
Conversa com o Espírito de Henrique, emancipado pelo sono
(A conversa foi das 22h05 às 22h25.)
Evocação do Espírito de Henrique, em nome de Deus.
- Eu vim e estou aqui.
1. Quem nos fala?
- É o Henrique.
2. Que bom que você veio, Henrique. Veio de boa vontade?
- Eu vim. São vocês..., eu conheço vocês.
3. Que bom. Nós queremos ajudar você, sua família e também aprender com o seu exemplo.
- Eu sei, eu vejo algumas pessoas aqui.
4. Sabe quem são?
- Esse médico que eu tenho encontrado, às vezes, e mais distante aquele que foi meu inimigo, que me observa de longe, mas eu sei que tá tudo certo agora, tá tudo bem. Vejo também outros Espíritos, mas eu sei que está tudo certo.
Observação: o médico é o Dr. Albert Schweitzer, que se prontificou a auxiliar na cura da obsessão sofrida por Henrique.
5. Podemos fazer algumas perguntas a você, para que possamos compreender a sua situação no corpo e ajudá-lo, se possível?
- Sim.
6. Como você se sente no corpo que não responde muito bem aos seus comandos?
- Para mim é uma punição, uma prisão, que a princípio eu não queria aceitar como algo que fosse bom, mas depois eu vi que poderia, de certa forma, me esconder e diminuir o sofrimento que eu sabia que ia passar.
7. De quê você queria se esconder?
- Queria me esconder da minha própria consciência, na verdade, porque eu ainda ouvia com frequência algumas vozes de acusação. Não queria ter que assumir todos os compromissos que eu disse que iria assumir. Fiquei com medo, com muito medo.
8. Saberia nos dizer como agiu para, de certa maneira, se esconder no corpo?
- Eu planejei que voltaria ao corpo e enfrentaria esse meu inimigo. Eu sabia que ia encontrá-lo, então fiquei refletindo como seria isso e conseguia antever o sofrimento que eu iria passar. Então eu pedi para não vir agora, que pudesse deixar para depois, mas estava feito, e eu então lutei para que não desse certo. Eu não queria voltar para o corpo, mas aí a minha condição ficou pior, porque agora eu estou num corpo que não me deixa ser o que eu sou, e não evitou que meu inimigo me encontrasse.
9. Você agiu de maneira intencional, quando viu que estava ligado a um corpo em formação?
- Eu só queria sair dali, queria ficar longe de todo mundo. Queria ficar sozinho. Mas não conseguia, eu ficava cada vez mais próximo, cada vez mais próximo. Então eu sabia cada dia mais que ia voltar para o corpo, e não queria. Foi isso.
10. Nós soubemos que, quando você estava com poucos meses de idade, tinha crises de choro, de sufocamento, arranhava os olhos como se quisesse arrancá-los. Você lembra disso?
- Eu lembro de não conseguir deixar de enxergar meu inimigo. A toda hora ele aparecia, sumia, aparecia de novo, e aquilo era muito ruim. Mas eu sei que isso era para acontecer, porque eu já sabia antes.
11. Como você vê agora, como Espírito longe do seu corpo, essa sua vida? Você a lamenta ou tem coragem de levar até o fim essa prova e sair dela mais livre e mais feliz?
- Eu vejo agora que, quando tive medo e tentei fugir, eu não tinha certeza de poder contar com outros que me ajudassem quando nascesse. E os meus pais estão fazendo isso, porque eles também se comprometeram a me ajudar a passar por isso que tenho passado. Eles agora são para mim um bom exemplo, e isso me ajuda a ter forças. Eu sei que depois de deixar esse corpo eu vou estar melhor do que parece. Os meus pais gostariam que eu pudesse ter uma vida mais normal, mas eu quero que eles saibam que eu agradeço por eles aceitarem esse desafio, por me aceitarem como sou e que vai ser importante para mim essa vida desse jeito, e para eles também.
12. Gostaria de mandar um recado para eles, agora que está podendo raciocinar e falar melhor?
- Peço que eles perdoem o meu jeito, porque às vezes eu sei que não estou agindo bem, que fico irritado, mas algumas coisas ainda são mais fortes do que eu. Eu tento me controlar, mas não consigo porque esse corpo, quando está doente, me deixa muito incomodado e confuso. Mas eu só quero o bem deles e quero que tudo dê certo. Peço que eles sejam firmes comigo, porque eu preciso também disso. Peço que eles tenham fé, porque é isso que os anjos dizem. Eles estão aqui e falam de fé. Dizem que é preciso ter coragem e fé para enfrentar as provas da vida. Eu tenho as minhas provas, e além de me ajudarem nas minhas eles têm as deles, mas juntos nós vamos vencer essas provas, eu sei.
13. Deus é Pai justo e misericordioso e vai dar forças a vocês para vencerem todos os desafios.
- Sim.
14. Nós temos pedido a Deus por você, Henrique, para que tenha resignação, coragem e fé para enfrentar a sua prova. Nossas preces têm lhe ajudado a ter forças para resistir às suas más inclinações?
- Sim, e é o que me faz estar aqui agora, porque confio em vocês. Agora vou embora, preciso voltar.
15. Vai voltar para o corpo, ou vai continuar emancipado, na companhia desse bom médico?
- Vou voltar para o corpo e depois vou dormir de novo, porque isso é o que acontece.
16. Por que voltar para o corpo em vez de ficar aí com esse bom amigo?
- Porque tem alguma necessidade e preciso voltar.
17. Nós agradecemos por ter vindo, Henrique, e pedimos que Deus o abençoe sempre e lhe dê forças.
- Obrigado.
(Por psicofonia, dia 5 de abril de 2024.)
Observação: no dia seguinte, sábado de manhã, perguntamos à avó do Henrique, com quem ele tinha dormido, se ele já tinha adormecido às 22h do dia anterior, ela disse que sim. Perguntamos se teria acordado logo depois, ela disse que, passados alguns minutos depois que ele dormiu, deu um grito e, segundo ela, já voltou a dormir. Disse-nos que ela também dormiu muito bem, o que dificilmente ocorre, pois costuma ter insônia e acorda várias vezes durante a noite.
Notícias da parte dos familiares do menino
A avó do menino, que têm contato diário com ele, disse-nos que a partir do dia em que o Espírito resolveu abandonar a vingança, o menino só tem melhorado. Não mais acorda brigando com alguém invisível e não tem mais se irritado como ocorria antes. Disse-nos sua avó, que ficara com o neto para que a filha fosse ao mercado, que ele arrumou sua cama e também a dos seus pais, lavou a louça, e depois dava saltinhos no ar e batia palmas, feliz porque sua mãe iria gostar do que ele tinha feito. Jamais ele havia feito qualquer movimento nesse sentido.
Pela primeira vez foi com os pais à festa de aniversário de um priminho, coisa que antes era impensável, pois não suportava aglomeração de pessoas. Brincou a tarde toda e não apresentou nenhuma alteração de humor.
Em meados do mês de março, sua avó nos contou que os amigos e familiares que frequentam a mesma igreja evangélica que ela e o esposo, avós do menino, foram à casa deles para orar juntos pelo avô, que está muito doente. Foram sessenta pessoas, e o menino permaneceu o tempo todo nesse culto familiar, ajudou a avó nos preparativos para o lanche, e tudo transcorreu tranquilamente. Com essa e outras notícias, ficou evidente a cura da obsessão, graças ao bom Deus e seus Anjos, dentre os quais Allan Kardec, nosso caro presidente do grupo curador.
É certo que a cura da obsessão não resolveu a questão do desarranjo do organismo do menino, que é uma prova para ele e para seus pais, mas já não é muito livrá-lo da ação persistente de um Espírito que buscava vingança?
__________
1 Veja-se: O Livro dos Espíritos, cap. VII - Da volta do Espírito à vida corporal - Influência do organismo.
2 O Livro dos Espíritos - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos, cap. VIII - Da emancipação da alma - O sono e os sonhos, item 402.
3 O Livro dos Espíritos - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos, cap. VIII - Da emancipação da alma - O sono e os sonhos, item 401.
4 Veja-se: O Livro dos Espíritos: Escolha das provas, item 258 a 273; Da volta do Espírito à vida corporal - Prelúdio da volta, item 330 a 343; União da alma e do corpo. Aborto, itens 344 a 360.